RITO AMAZÔNICO: A HORA DE DEUS PARA OS POVOS ORIGINÁRIOS
23.08.2024 - 16:50:00 | 6 minutos de leitura

Foi durante o Sínodo da Amazônia realizado em Roma do dia 06 ao dia 27 de outubro de 2019, que nasceu a iniciativa como reconhecimento de toda espiritualidade ancestral dos povos originários. Depois da grande escuta, de mais de 87 mil pessoas de toda a Panamazônia, muitas demandas e direitos; muitas vozes foram levantadas em prol dos parentes indígenas. Entre outras possibilidades e formas para atender os gritos da terra, da água, da floresta como organismo vivo, a vida dos povos originários, foi centrada a atenção dos padres sinodais, na ideia da elaboração do Rito Amazônico, fruto da escuta do Espírito Santo, autor, ator e protagonista de todo o caminho sinodal. Desta forma, os povos da Amazônia seriam melhor atendidos em sua realidade espiritual.
Entre as modalidades de organização, já existentes como Celam, Repam, Comissão Episcopal para a Amazônia, Clar, Cáritas, CIMI, o surgimento de alternativas novas, Querida Amazônia do Papa Francisco, a criação da Universidade Amazônica, por exemplo, Faculdade bilíngue, a CEAMA, atenção com Observatório da Amazônia, o Rito Amazônico assume a característica forte e responsável como reconhecimento de uma espiritualidade peculiar da resistência dos povos originários. Espiritualidade que acompanha os povos desde sempre, o Rito Amazônico, assume a humildade da Igreja que se coloca a caminho sinodal com postura de conversão pastoral. Conversão ecológica. Conversão missionária fazendo-se sempre Igreja em saída e Igreja em estado permanente de missão.
Ao assumir o Rito Amazônico, a Igreja acolhe, aceita e reconhece que os povos originários possuem uma vida totalmente espiritual. A sua vida consiste em uma atitude espiritual, isto é, a vida espiritual dos povos originários que não vive de momentos celebrativos estanques, antes se trata de uma vida plenamente espiritual. Mais ainda, neste contexto, no Rito Amazônico, a Igreja assume a reconciliação com a Amazônia, reconciliação com seus povos indígenas e quilombolas, ribeirinhos e assentados, reconciliação com as mulheres e os jovens. Reconciliação com as águas, com a terra e com as florestas.
O Rito assume a missão característica de salvar os povos originários. “Faz 500 anos, no Brasil que tentam nos matar e não conseguem” me dizia um indígena da etnia Rikbaktsa. “Não conseguem nos matar, porque temos uma espiritualidade de resistência muito forte”. Quando visito a etnia Enawenê-Nawê, acompanho o Rito com suas flautas e cantorias. Ritos e ritmos puramente naturais ao som da escuta e dos sopros, que se revezam a cada meia hora para que toda comunidade possa participar da celebração. Na realização do Rito, todos são atores e protagonistas. Uma aldeia toda ministerial. Começa às 4 horas da manhã e segue durante o dia todo por vários meses.
Neste Rito, eles se encontram como identidade de um povo único e saúdam a resistência. O Rito salvaguarda a sobrevivência, e, também, é garantida a sua salvação como necessidade, que só o Rito pode oferecer toda vez que o Rito é invocado em forma de pajelança em posse plena da comunhão espiritual.
O Rito tem a missão de disciplinar a comunidade em favor de sua identidade cultural própria. Portanto, ao reconhecer no Rito Amazônico, a Hora de Deus, estamos afirmando que é urgente assumir e fazer o caminho na humilde escuta para fazer a experiência espiritual com os povos originários. Sentir com elementos de salvação eterna.
Quando no Rio Juruena, o padre Balduino, apareceu afogado pelas águas, em 2014, depois de 49 anos de vida doada aos povos originários, e 45 anos de presença junto ao povo da etnia Rikbaktsa, o povo implorou para fazer o rito de lamento, a fim de que o padre entre em comunhão plenamente espiritual. Depois do rito, o corpo foi levado para o velório, onde o povo Rikbaktsa, novamente realizou o rito de lamento, com maior presença ainda da comunidade indígena, na Igreja Catedral.
Quando algum indígena falece, o rito exerce a missão de enviar para a eternidade espiritual seu ente querido. A Hora de Deus, com a chegada do Rito Amazônico, quer assumir a espiritualidade ancestral que é digna de todo respeito. Espiritualidade que contém força salvadora cristã. Muito se falou e muito se escreveu desta espiritualidade, contudo, ainda não assumida com a oficialidade que merece. Graças ao Sínodo da Amazônia, o Espírito Santo a sentiu, a viveu e a despertou nos padres sinodais.
Como outros ritos tantos que atenderam as necessidades de uma determinada realidade e em outras épocas, o Rito Amazônico, atende a esta região panamazônica, em tempo real, tão carente de reconhecimento de um patrimônio histórico tão querido para a humanidade.
O Rito Amazônico contempla o respeito com a Casa Comum, porque os mestres do cuidado, assim verdadeiramente a habitam de forma espiritual. Somos gratos à equipe do bloco temático pelo enorme esforço, pelo avanço do trabalho assumindo as características de um rosto propriamente amazônico. Dada a importância, se faz necessário e de maneira gradativa assumir o processo de elaboração de um Rito Amazônico de maneira Eclesial, para fortalecer a luta contra o massacre que os chamados de “cristãos” e em nome de Deus praticam o genocídio contra os Guarani Kaiowá, os Yanomami e todos os povos originários. Rito Amazônico que tece a defesa urgente dos povos originários. O Rito Amazônico nos ajuda a entender que os povos originários têm vida e tem alma, são seres de espírito.
O Deus verdadeiramente cristão se encarna no coração dos povos originários. Alarguemos, portanto, nossa tenda nesta Casa Comum e alarguemos a espiritualidade do reconhecimento para salvar a natureza juntamente com os povos originários tão caros e necessários à Humanidade inteira. Aprendamos com eles em sua sabedoria e salvação milenar.
Cabe também ao Rito religioso a força motriz capaz de impor limites ao mal contra a Casa Comum e contra os seus habitantes. A espiritualidade é mais forte do que o massacre. O Rito Amazônico em plena relação com a espiritualidade do Evangelho de Cristo nos permita o encontro amigo na aldeia global, a sociedade de hoje, na busca do rosto universal em clima de respeito e fraternidade. Que o Rito Amazônico nos ajude por uma Ecologia Integral.
+ Dom Neri José Tondello
Bispo Diocesano de Juína
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